sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

A troca

Henri Cartier-Bresson



Portugal declarou estar disponível para aceitar receber alguns dos prisioneiros de Guantánamo, nomeadamente parte daqueles que não vão ser julgados mas que tampouco podem regressar aos seus países por não terem garantia de segurança nesse regresso. Ora aqui está uma decisão para ninguém botar defeito! Finalmente, parece que o governo decidiu mostrar que a tradição humanista associada ao socialismo democrático não é letra completamente morta. Até eu, tão habituado a este ruim vício de dizer mal de tudo, tenho que dar o braço a torcer: desta vez os senhores do governo andaram bem.

Porém, é sempre possível ir mais longe, mesmo nas boas decisões. Desde logo, há que ter em conta que nos tempos que correm ninguém dá nada a ninguém. É por esta razão que me parece muito razoável passar da aceitação humanista para uma relação mais simétrica. Digo isto porque talvez o governo não se tenha lembrado, mas boa ideia mesmo era procedermos a uma troca de prisioneiros! Sou ou não sou um gajo de ideias?! E até dispenso os agradecimentos do governo ou uma eventual comendazita no 10 de Junho. Deixo a ideia desinteressadamente!

Proponho, por exemplo, que se trocasse o Oliveira e Costa por um perigoso barbudo do Uzbequistão; a dona Fátima Felgueiras por feroz sírio com o respectivo cinto de bombas e até mesmo, porque não, o grande Vale e Azevedo por um chinês dos pequeninos. Garanto que ficávamos a ganhar com a troca! Ganhávamos em tranquilidade e bom viver. O problema é que nós temos gente a mais para o exíguo número de prisioneiros que os americanos querem libertar. Paciência, teremos que deixar os deputados relapsos para segundas núpcias. Não, claro que não é por faltarem às votações que os quero despachar. Quero lá saber se vão ou não ao hemiciclo. Aliás o problema é esse, é ninguém lhe sentir a falta senão quando é para levantar o dedo. Tirando uma mão cheia deles, aos outros não se lhes conhece uma ideia, menos ainda uma obra. Assim, se fossem para Guantánamo, pelo menos podiam obrar por lá…

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