
É um daqueles fantásticos mistérios que transcendem a simplicidade da alma masculina. Pelo menos da minha, e por isso vos peço, eventuais leitores, que me ajudem nesta demanda. De onde vem aquela energia toda que tanto faz estremecer a mais santa como a mais puta das mulheres? Bom, vendo bem, desta questão particular nem há muito a dizer. É um daqueles mistérios que pode muito bem continuar misterioso – ainda que seja pena não se encontrar maneira de usar tamanha energia para esbater a actual crise dos combustíveis.
Há outras questões, porém, que merecem reflexão. A do tempo, por exemplo. Porque haverá mulheres que parecem tropeçar no orgasmo e outras nunca encontram o caminho? Porque existirão tantas variações - de ordem quantitativa e qualitativa - entre os sinais que o anunciam e a sua plena manifestação? Porque são tão variáveis (e às vezes imprevisíveis…) os efeitos secundários do orgasmo - riso nervoso ou destrambelhado, choro tímido ou convulso, fome súbita ou perda de apetite? Tantas perguntas, tão poucas respostas!
Mas no fundo talvez tudo isto sejam coisas lá com elas e o melhor que temos a fazer é concentrarmo-nos naquilo que é de gajo! Ou seja, coisas práticas. O que devemos nós fazer naquele entretanto que vai do anúncio à magnifica explosão? Já se sabe que devemos aguentar a “pé” firme para que a simultaneidade exponencie os efeitos da combustão interna. Ora, o que sucede é que isso nem sempre é fácil. Há truques, bem sei, mas quantas vezes não resultam deles mal-entendidos?! Eu, numa ocasião, decidi bater palmas. Pareceu-me adequado: marcava o ritmo e servia como estímulo, assim à maneira de uma claque. Agora vejam, tratando-se de mulheres, pode um gajo ter boas intenções? Quase nunca! Pois é, já adivinharam: a bela não achou graça e deu-me dois formidáveis murros no plexo solar. A falta de ar foi o de menos. Pior foi a súbito minguamento do que estava em ponto de rebuçado, mas, valha a verdade, esse desagradável efeito secundário também a ela custou!
Dir-me-ão que de tais acidentes sempre resultam valiosas lições. Não estejam, porém, tão seguros, pois tratando-se de mulheres nunca se sabe. Querem provas? Então aí vai. Em ocasião posterior, e como a coisa tardasse mais que o desejado, dei por mim trauteando o hino da Maria da Fonte. Um pouco a medo no começo, é certo, mas a verdade é que quando cheguei aquela parte que diz «… com as pistolas na mão / para matar os Cabrais / que são falsos à Nação», nem vos conto! A dama ficou mais tola do que era costume e tudo acabou numa pura explosão de pirotecnia chinesa que nem na abertura dos Jogos Olímpicos!
É o que digo: um mistério dos grandes! Mas quem não gosta de um bom mistério? Eu gosto, e gosto tanto deste que procurei até documentar-me. Como as mulheres me acham um tanto destravado e pouco de fiar, raras vezes entram em minúcias comigo, mas vejam as confissões de umas destas fascinantes criaturas do mundo natural:
Preparo-me para os orgasmos como se me preparasse para cozer pão. Primeiro, limpo o mármore. Depois, tiro minuciosamente todos os utensílios que vou utilizar. O meu corpo é a massa. Trabalho-o com as mãos como se fosse pasta. Atiro-o ao ar e espero que caia nos meus braços como um amante. Recorro à analogia dos fogos artificiais para descrever os meus orgasmos, porque cada um é diferente e uma vez começado, nunca posso prever o resultado. Alguns começam com um grande estalido, mas desvanecem-se. E outros começam como pólvora molhada, mas de repente, no alto do céu, precisamente quando julgas que se perderam, rebentam no chapéu de chuva mais brilhante. Frequentemente os orgasmos jogam às escondidas, como as chaves que oiço, mas não consigo encontrar, no fundo do bolso. Quando me custa chegar ao orgasmo, parece-me estar numa auto-estrada metido num grande engarrafamento de trânsito. Sinto-me sempre ávida depois de um orgasmo, talvez porque nunca me supera totalmente (…) antes de chegar à meia-idade, senti um interesse estético pelos orgasmos. Às vezes planeio os meus orgasmos como se fossem uma competição atlética. O meu orgasmo final é sempre como um reflexão a posteriori, porque nunca sei quando retirar-me. Penso que a frase”deverias saber quando retirar-te” foi inventada por alguém que sabia exactamente em que orgasmo parar. Penso que nalgum lugar do mundo deve existir um quarto escuro com um letreiro na porta que diz: “Orgasmos perdidos”, onde estão todos os orgasmos que deveria ter tido.
Daphne Slade, La forma de la sensación.
Como se fosse cozer pão? Alguns começam com um estalido? Como se fossem uma competição atlética? Nada disto vos parece estranho? Falo convosco, eventuais gajos que por aqui passem, já que ao mulherio tudo isto deve ser a coisa mais natural do mundo! E que dizer da ideia que alguns orgasmos são como pólvora molhada? Humidade convém que haja, mas pólvora parece-me doidice. Enfim, coisa de gaja e do maravilhoso mundo animal. O que importa saber é se há por aí alguém capaz de ajudar. Please?